Mensagens revelam esquema que levou ao afastamento do governador do TO

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Afastamento no Tocantins: Mensagens Secretas Desvendam Teia de Desvios na Administração Pública

A administração do Tocantins encontra-se sob uma minuciosa investigação judicial. O atual mandatário estadual, Wanderlei Barbosa (Republicanos), juntamente com sua companheira Karynne Sotero Campos, o ex-cônjuge desta, Paulo César Lustosa, e uma dezena de parlamentares estaduais, são alvos de uma complexa apuração. O foco reside em uma suposta estrutura de apropriação indevida de fundos públicos, disfarçada em acordos contratuais firmados durante o contexto emergencial da pandemia de Covid-19. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal, por meio da "Operação Fames-19", desencadeou a ação que impulsionou a decisão do Superior Tribunal de Justiça, determinando o afastamento provisório do chefe de governo tocantinense de suas funções. Documentos e um extenso volume de trocas de mensagens, recuperadas do dispositivo móvel de Lustosa pelos investigadores, começam a desvendar os pormenores desta rede de ilícitos.

Em resposta às acusações, Wanderlei Barbosa declarou que seu afastamento é precipitado, sustentando que as evidências apresentadas não atestam sua culpabilidade e que buscará os meios legais para a reintegração ao cargo. A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), por sua vez, garantiu em nota sua total colaboração com as diligências, remetendo os dados requeridos pelos órgãos de controle internos e externos. Paulo César Lustosa, amplamente conhecido como PC Lustosa, emerge como o articulador central do esquema, desfrutando de influência desmedida nas altas esferas do governo, conforme apontado pela Polícia Federal. As investigações indicam que ele recebeu volumosas quantias de distintas entidades, incluindo uma com laços familiares com o filho de Taciano Darcles Santana Souza, um assessor especial do governador. As trocas de mensagens revelam que a principal atividade de Lustosa era a articulação de propinas em contratos tanto com o governo estadual quanto com administrações municipais.

Os diálogos interceptados por investigadores, em uma ocasião, mostram Lustosa compartilhando com seu irmão, Wilton Rosa Pires, a estruturação de novos arranjos desde a "transição" governamental, referindo-se à substituição do ex-governador Mauro Carlesse por Wanderlei Barbosa em 2021. Ele expressou a magnitude do que estava sendo montado: "Cê não imagina o esquema que esses caras tão montando aí." Em outra troca de mensagens, a Polícia Federal identificou alusões ao "recebimento sistemático" de propina por Wanderlei Barbosa, sempre em dinheiro vivo. Um diálogo específico com Wilton Rosa Pires, após o governador prorrogar o estado de calamidade pública, exibe Lustosa comentando o apetite insaciável por fundos do líder estadual. A seguir, uma ilustração das comunicações encontradas:

Mensagens obtidas no celular de PC Lustosa detalham esquema de desvios no governo do TO

Adicionalmente, a investigação comprova a prática de distorção de processos licitatórios, com a pré-definição de vencedores para cada procedimento. A aliança ilícita envolveria, além de PC Lustosa, os irmãos Ramalho Souza Lustosa Limeira Alves e Roberto Souza Alves, Taciano e seu filho, Marcus Vinicius Ribeiro Santana, Macione Costa Oliveira, e Paulo Cesar dos Santos, este último associado à empresa Mundo dos Negócios. Uma conversa entre Lustosa e o representante da Mundo dos Negócios, referenciado como Paulão, evidencia o conluio para que a empresa Portinari — ligada a Marcus Vinicius — fosse a vencedora de um certame para o fornecimento de cestas básicas.

A operação, em sua segunda etapa, que resultou na suspensão do governador por um período de 180 dias, também cumpriu mandados de busca e apreensão no Palácio Araguaia e na Assembleia Legislativa. Mais de 200 agentes federais participaram da ação, executando 51 mandados para angariar novos indícios sobre a aplicação de emendas parlamentares e a suposta obtenção de benefícios indevidos por agentes públicos. A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (SETAS) é apontada como o núcleo de um "arranjo sistemático" de apropriação, especialmente por ter canalizado a maior parcela dos recursos destinados ao enfrentamento da pandemia. Parlamentares teriam recebido contrapartidas para a realocação de verbas para a pasta. Há também fortes indícios de dissimulação da origem de bens, com parte dos recursos ilicitamente obtidos pelo governador supostamente direcionada para a construção da Pousada Pedra Canga, em Taquaruçu, registrada formalmente em nome de Rérison Antônio Castro Leite. O dano financeiro estimado à administração pública ultrapassa os R$ 73 milhões, oriundos de mais de R$ 97 milhões em contratos para itens como cestas básicas e frango congelado, com as verbas ilícitas sendo camufladas por meio de investimentos em propriedades suntuosas, compra de rebanhos e liquidação de gastos privados.

Link da notícia original: https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/09/03/veja-mensagens-que-levaram-ao-afastamento-do-governador-do-to-ce-nao-imagina-o-esquema-que-esses-caras-tao-montando.ghtml

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